Jaqueline Selva Warren, artista brasileira em Londres

01 Apr, 2014

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Jaqueline Selva Warren é uma artista brasileira que vive em Londres há três anos. Sua produção artística está concentrada no campo da escultura e sua paixão pelo Grotesco na Arte, bem como pelo Metal, na música, direcionam o seu trabalho. Saiba mais sobre a história e as influências dessa artista na entrevista abaixo.

MA – Quando você chegou em Londres e como tem sido a sua vida nessa cidade?

JW – Eu nasci e sempre morei em Florianópolis, Santa Catarina. Vim morar em Londres em Janeiro de 2011 com meu marido que é músico e tem cidadania britânica. Somos um casal de artistas e decidimos nos mudar para Londres pra buscar mais oportunidades em nossas áreas, e também para estarmos imersos no rico universo cultural que esta cidade maravilhosa oferece. Percebemos que as dificuldades de se viver de arte aqui também são grandes. Se você tem bastante contatos e conhece pessoas no meio artístico, isso facilita a sua inserção.

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MA – Quais foram as maiores dificuldades que você encontrou na sua nova vida na Inglaterra?

JW – Inicialmente foi o idioma, até porque acabei tendo mais contatos com brasileiros do que com ingleses e estrangeiros aqui. Não imaginava que fosse ter tantos brasileiros aqui!  No Brasil eu tinha um atelier, com um bom espaço para trabalhar e guardar meus trabalhos e equipamentos. Aqui em Londres moramos numa casa pequena, o que dificulta um pouco a minha produção de esculturas. Já não há mais espaço para guardá-las e enquanto não nos mudamos para um espaço maior estou intercalando minhas produções com desenho, pinturas e bolos. Eu achei interessante a ideia de produzir bolos artísticos e esculturais, inclusive trabalhei um tempo numa confeitaria fazendo decorações.

MA – Você pretende voltar para o Brasil?

JW – É complicado, muitas vezes tenho vontade de voltar pela falta que a família e os amigos fazem, que é muito grande. Mas logo desanimo quando começo a pensar em outros aspectos, como a corrupção, miséria, violência. Na minha cidade o índice de criminalidade aumentou absurdamente, a explosão imobiliária está destruindo as belezas naturais, há prédios enormes por todos os lados, excesso de veículos deixando o trânsito um caos. É impossível circular pela cidade e o transporte público também deixa a desejar.  São essas coisas que realmente desanimam. Só que, claro, se você tem um objetivo deve correr atrás, e as oportunidades e chances aqui são muito maiores. A qualidade de vida é melhor aqui também.

MA – Conte um pouco sobre a sua trajetória artística

JW – Meu interesse pelas artes plásticas surgiu através da música. Aos quinze anos comecei a ouvir Hard Rock, Heavy Metal e outras vertentes do Metal, estilos que ainda escuto muito.  Algo que sempre foi característico dos discos de Metal são as capas e encartes contendo figuras monstruosas.  Foi neste período, modelando caveiras e monstros em argila, que me interessei pela escultura. Em 1997, aos vinte anos, entrei no curso Bacharelado em Artes Plásticas, Habilitação em Escultura e Cerâmica, na UDESC (Universidade Estadual de Santa Catarina), na cidade de Florianópolis. Posteriormente fiz o curso para Técnico em Prótese Odontológica, concluído em 2004. Foi uma fase onde continuei estudando escultura e conhecendo novos materiais e técnicas, porém, voltados à odontologia. Trabalhei por um período nesse ramo e, paralelamente, voltei para a universidade para cursar Licenciatura em Artes Plásticas. Nesse período fiz estágios em escolas públicas e particulares, além de montar o meu próprio estúdio, chamado Selvart, onde lecionei artes para crianças e adultos, principalmente aulas de modelagem, escultura, cerâmica, pintura e mosaico. Em 2010 voltei a produzir e fiz uma exposição com uma série de figuras que chamei de “Creatures”. Quando estava na faculdade, estudei a vida e a obra do artista H. R. Giger, momento em que descobri muitos outros artistas e escritores incríveis que me motivaram a estudar mais sobre o Grotesco.  Desde então, meu foco tem sido o estudo e o trabalho com escultura e modelagem, além de me interessar e desenvolver um trabalho com maquiagem de efeitos especiais.

Jaqueline 3MA – Como é ser uma artista visual no Brasil? E em Londres, é diferente?

JW – É muito complicado viver de arte em qualquer lugar do mundo, e no Brasil a situação ainda é pior. Falta valorização do artista em geral. Muitos acabam seguindo o caminho da licenciatura, pois acaba sendo a melhor alternativa para poder pagar as contas. Em Londres as oportunidade de trabalho são maiores, apesar de muito concorrido também. E aqui você respira arte, acontecem tantos eventos, tantas exposições, espetáculos, shows, workshops e afins (pra todos os gostos e bolsos), que você recebe estímulos de todas as direções e intensidades. Em 2011 fiz uma versão em escultura da obra “The Ugly Duchess (An Old Woman)” de Quentin Matsys, que está na National Gallery. Essa obra tem relação com um dos desenhos de Leonardo da Vinci. Comecei então a pesquisar mais sobre este artista, especialmente seus desenhos grotescos e caricaturas. Tive a oportunidade de ir à exposição “Leonardo da Vinci: Painter” na National Gallery, em 2011, então resolvi fazer uma série de esculturas inspiradas em seus desenhos grotescos. Fiz, no total, oito esculturas em argila, e antes mesmo de finalizá-las fui surpreendida com mais uma exposição do mestre renascentista em Londres: “Leonardo da Vinci: Anatomist” na Queen’s Gallery, em 2012. Foi a maior exposição já realizada dos trabalhos anatômicos de Da Vinci. Após finalizar estas esculturas, procurei uma galeria para mostrá-las e tive o prazer de participar de uma exposição em grupo na Espacio Gallery, em Bethnal Green. Foi a primeira de outras exposições que fiz nesta mesma galeria. Fiz vários contatos com outros artistas, além de receber algumas encomendas. Paralelamente aos meus projetos com escultura, como havia mencionado, tenho trabalhado com bolos artísticos e artesanato. No momento estou optando pela diversidade de atividades.

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